Inspirado no texto Johan Padan a la descoverta de le Americhe, de Dario Fo, o solo A Descoberta das Américas estreou em 2005 e, ao longo de duas décadas, consolidou-se como um dos trabalhos mais longevos e reconhecidos do teatro brasileiro contemporâneo. A montagem rendeu a Julio Adrião o Prêmio Shell de Melhor Ator e foi eleita uma das dez melhores peças da temporada pelo jornal O Globo. Desde então, o espetáculo ultrapassou a marca de 700 apresentações, circulando por 26 estados brasileiros e 10 países.
A encenação narra a saga de Johan Padan, um anti-herói rústico e carismático que foge da Inquisição Espanhola e embarca em uma das caravelas de Cristóvão Colombo. Ao chegar ao chamado “Novo Mundo”, o personagem atravessa naufrágios, massacres e processos de escravização, até ser reconhecido como líder por povos indígenas, conduzindo-os em uma luta contra os invasores. A trajetória cômica e trágica do personagem funciona como ferramenta crítica para revisitar a história da colonização a partir de um ponto de vista popular e irreverente.
Com cenário mínimo, iluminação essencial e apenas um ator em cena, a montagem aposta na simplicidade dos recursos cênicos para valorizar a potência da atuação. Julio Adrião interpreta dezenas de personagens, transitando entre indígenas, colonizadores, figuras religiosas e até animais, em um registro que combina humor, energia física e crítica política. A proposta mantém o foco na imaginação do público, que completa a cena a partir da narrativa.
Para a diretora Alessandra Vannucci, os 20 anos do espetáculo representam uma espécie de amadurecimento artístico. Segundo ela, a obra se constrói na relação direta com o espectador, que participa ativamente da criação de sentidos. “O espetáculo está na cabeça do espectador. Sua forma e seu conteúdo trazem uma versão, entre muitas possíveis, da história da colonização da qual somos cúmplices. Assim, uma poética se faz política”, afirma.
Julio Adrião destaca que a longevidade da peça não foi planejada, mas construída a partir da relação com o público. “Um espetáculo teatral completar 20 anos não é algo esperado. Ele só continua se estabelecer uma identificação com quem assiste, a ponto de o público se apropriar da obra e exigir sua continuidade”, reflete. Para o ator, mais do que repetir a montagem, é necessário refazê-la constantemente, respeitando tanto quem já viu quanto quem ainda verá. “O espetáculo sempre termina, mas a história continua”, resume.



