A Borra - Espaço de reflexão crítica sobre as Artes Cênicas no Ceará
A Borra por Edson Cândido - Foto: Liezio Gomes
São apenas 20 minutos para o grupo de teatro resolver sua vida. São apenas 20 minutos em que o grupo precisa dizer a que veio. São apenas 20 minutos em que o grupo deve apresentar um trabalho em busca de reconhecimento. São apenas 20 minutos para convencer a comissão julgadora. São 20 minutos de glória ou de desgosto.
Nos palcos curtos dos esquetes, surgem artistas.
Nos instantes breves, surgem histórias.
E nos 20 minutos que parecem tão pouco, às vezes nasce um teatro inteiro.
Mas, diante de tudo isso, vale a pena experimentar os diversos festivais de esquetes espalhados pela cidade de Fortaleza, como o FECTA, da Companhia Acontece; o FESTFOR, da Companhia Cearense de Molecagem; e o Festival Nacional de Esquetes Bivar. É nesses festivais que os grupos emergem com suas experimentações, seus riscos, seus acertos e suas descobertas, espaços onde o teatro se reinventa e novas linguagens ganham forma.
Na última quinta-feira (11/12), fui prestigiar, no Teatro Chico Anysio, o Festival Nacional de Esquetes Bivar. O teatro estava lotado, uma plateia calorosa, diversa e atenta. É sempre uma alegria ver as pessoas ocupando os espaços culturais e fortalecendo o teatro da cidade.
O ponto alto da noite foi o debate final com artistas, diretores e público, um momento de reflexão sobre o processo criativo e também um exercício crítico fundamental para o desenvolvimento das obras. Achei muito interessante a ideia de realizar o debate no formato “Roda Viva”, criando um ambiente dinâmico, circular e participativo. Cada diretor teve alguns minutos para apresentar seu processo de criação, compartilhando escolhas, desafios e caminhos estéticos que deram forma ao esquete.
Foto: Liezio Gomes
O festival surgiu em 2003 e é realizado pelo grupo Boca d’Cena – Produções e pelo Ateliê Monique La Rouge. Atualmente, já em sua 22ª edição, o FNEB – Festival Nacional de Esquetes Bivar de Teatro acontece em Fortaleza, adotando o formato híbrido, que integra atividades presenciais e virtuais.
O festival leva o nome do artista plástico e dramaturgo cearense Raimundo Eurico Bivar Lima, homenageando sua trajetória e contribuição para as artes cênicas. Ao longo de duas décadas, o FNEB consolidou-se como um dos mais importantes espaços de experimentação e visibilidade para grupos teatrais do país, reunindo artistas, pesquisadores e amantes do teatro em torno do formato breve, mas potente, do esquete.
Geração de emprego e renda
No Teatro Chico Anysio, o acolhimento começava antes mesmo da plateia entrar na sala: havia café gratuito no 0800, além de pipoca, salgados, refrigerantes e outras comidinhas à venda, criando um ambiente descontraído e convidativo para o público.
Nos bastidores, muitos trabalhadores e trabalhadoras da cultura atuavam de forma intensa e dedicada. Técnicos de iluminação, profissionais de contrarregra, equipes de apoio de camarim e outros agentes essenciais garantiam o funcionamento de cada detalhe da programação. É um lembrete de que o teatro se faz não apenas no palco, mas também por meio do trabalho silencioso e indispensável de quem sustenta a cena por trás das cortinas.
Sem falar na visibilidade conquistada pelo querido Teatro Chico Anysio, um espaço que resiste graças à dedicação incansável de seu gestor, o Zebrinha, um verdadeiro guerreiro da cultura. Não é fácil manter um equipamento cultural privado em uma região tão valorizada como a Avenida da Universidade. Ainda assim, ele segue firme, abrindo as portas para artistas, grupos, festivais e para o público que reconhece a importância de espaços independentes na manutenção da cena teatral da cidade.
É importante destacar que a realização deste festival só foi possível graças à Política Nacional Aldir Blanc, lei do Governo Federal que fortalece ações e projetos culturais em todo o país. Por meio da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, foi lançado o Edital de Apoio a Festivais Culturais do Ceará, instrumento que contempla festivais e mostras culturais, garantindo apoio direto a iniciativas de diferentes portes, linguagens e territorialidades.
Esse mecanismo tem sido fundamental para assegurar continuidade às ações culturais, ampliando a circulação de obras, fortalecendo grupos e impulsionando a cena artística cearense em toda a sua diversidade.
Esse investimento tem permitido a realização de diversos festivais em múltiplas expressões artísticas, espalhados por todo o território cearense. Trata-se de um recurso fundamental para descentralizar a produção cultural, estimular a circulação de obras e fortalecer grupos, coletivos e artistas que mantêm vivo o pulsar da cena cultural no estado.
- Vida longa -
Vida longa aos artistas que se arriscam nos festivais de esquetes, que ousam, experimentam e mantêm a cena pulsante.
Vida longa ao Festival Nacional de Esquetes Bivar, que segue fortalecendo o teatro, revelando talentos e celebrando a potência da cena curta.
Confira os ganhadores do festival: @festivalbivardeteatro
Mais informações sobre o Edital de Apoio a Festivais Culturais do Ceará (@pnabceara)




