A formação de plateia deve ser pensada como política pública pelas instituições culturais.
Foto: Jésus Léon / Divulgação.
A formação de plateia é um conceito amplo e que envolve desde a criação de experiências que não apenas atraem a atenção do público, mas também o incentivam a participar ativamente e refletir sobre o conteúdo/obra. Este processo é fundamental para o desenvolvimento cultural, pois promove a apreciação e o entendimento das diversas manifestações artísticas. Quando o público é “educado” sobre a importância da arte e da cultura, ele se torna mais propenso a apoiar e participar de atividades culturais, garantindo a continuidade de projetos artísticos e enriquecendo a vida cultural da comunidade.
No entanto, a formação de plateia não deve ser compreendida apenas como uma ação pontual ou responsabilidade individual de um artista ou grupo. Trata-se de uma estratégia contínua que precisa ser assumida como política pública, articulando instituições, escolas, coletivos e espaços culturais em torno de um mesmo objetivo: democratizar o acesso e despertar o desejo pela experiência e fruição artística.
No Brasil, há diversas iniciativas que servem de inspiração nesse campo. Projetos como o Programa Educativo do Itaú Cultural, em São Paulo, que realiza visitas mediadas e oficinas voltadas à sensibilização estética, ou o Programa de Formação de Público do Sesc, presente em todo o país, que alia espetáculos acessíveis a ações pedagógicas, demonstram a força dessa articulação. No Ceará, o Cineteatro São Luiz mantém o projeto Escola no Cinema, que leva estudantes da rede pública para sessões comentadas e atividades formativas, criando pontes entre a educação e o audiovisual.
Entre as novas experiências de mediação cultural, destaco também o Mais Plateia, plataforma cearense dedicada à divulgação e fortalecimento do teatro, da dança e do circo no nosso estado. O projeto, que funciona como aplicativo e portal digital, aproxima o público das programações culturais de Fortaleza, estimulando a descoberta de espetáculos e a construção de hábitos culturais. Ao investir em informação acessível e em linguagem próxima do público, o Mais Plateia atua como uma ferramenta contemporânea de formação de plateia, uma política de comunicação cultural que dialoga com as dinâmicas da era digital.
Essas experiências mostram que formar público é mais do que vender ingressos, é criar vínculo, curiosidade e pertencimento. Por isso, é preciso reconhecer que levar público ao teatro é uma tarefa compartilhada. O artista ou grupo que se apresenta deve se comprometer em construir pontes com o público, comunicando sua obra de forma acessível e sensível, enquanto o espaço que recebe o espetáculo precisa investir em estratégias de divulgação, recepção e fidelização.
Quando essas responsabilidades se encontram, a experiência cultural se fortalece e gera continuidade. Pensar a formação de plateia como ação conjunta é pensar a sustentabilidade da própria arte. Uma plateia formada não surge por acaso; ela é resultado de políticas consistentes, de artistas comprometidos e de espaços que compreendem sua função social. Somente assim é possível garantir que o teatro, e as artes como um todo, sigam pulsando como direito, linguagem e território de encontro.



