Espetáculo DEFFUTURISMO provoca reflexão sobre acessibilidade e diversidade.

Escrito em 23/08/2025
William Axel


Pesquisa do IBGE aponta que quase 9% da população brasileira tem algum tipo de deficiência; obra de João Paulo Lima surge como manifesto artístico e político em meio ao debate.

 

    De acordo com pesquisa do IBGE, o Brasil tem 18,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, seja física ou do campo da neurodiversidade, o que corresponde a quase 9% da população. O dado levanta questões importantes no meio cultural: como esses milhões de brasileiros assistem a espetáculos de teatro, cinema ou música? Como acessam a formação artística? E, principalmente, como as políticas culturais e os equipamentos públicos têm se mobilizado para garantir a inclusão?

    Em Fortaleza, os debates sobre acessibilidade na cultura vêm avançando, especialmente na formulação de editais públicos que reservam porcentagens específicas para a participação de artistas com deficiência. No entanto, quando se trata da infraestrutura dos equipamentos culturais, a realidade é mais desigual. Ainda faltam rampas de acesso, elevadores, sinalizações adequadas, capacitação de equipes para o atendimento e, sobretudo, a presença de pessoas com deficiência trabalhando nesses espaços. Cada conquista representa um passo, mas os desafios revelam que há um longo caminho pela frente.

    É nesse cenário que o artista cearense João Paulo Lima apresenta o espetáculo “DEFFUTURISMO” dentro da programação 19º For Rainbow – Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual e de Gênero, uma dança-manifesto que materializa na cena sua luta e resistência como artista PcD. Ativista, professor, escritor e consultor de acessibilidade, João Paulo Lima é doutorando em Dança pela UFBA, mestre em Literatura Comparada pela UFC e técnico em dança contemporânea pela Escola Porto Iracema das Artes. Sua trajetória une arte e política, investigando novas formas de movimento e de representação dos corpos com deficiência.     


“Meu trabalho é também um manifesto de sobrevivência. Cada passo torto é uma forma de criar futuro”, define.

    A montagem propõe uma atmosfera caótica, marcada pelo texto-manifesto, pela música ao vivo de Kerensky Barata e pelo figurino de Claudio Rubino, composto por restos de muletas, palhas, sementes, arames e guizos. O resultado é uma encenação ritualística e provocadora, que integra ainda recursos de acessibilidade como audiodescrição, intérpretes de Libras e figurino sensorial que emite sons e luzes conforme os movimentos, permitindo diferentes percepções da dança.

    Mais do que uma performance, “DEFFUTURISMO” levanta vem para nos provocar: pensar o futuro como um espaço de diversidade, não alinhado às normas hegemônicas que historicamente trataram corpos com deficiência como restos ou limitações. “O futuro é torto. O futuro é DEF”, proclama o espetáculo, ao defender que a arte pode ser um campo de reinvenção, onde outras corporalidades — lentas, curvas, rastejantes, múltiplas — sejam vistas como potência.

Serviço

19º For Rainbow – Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual e de Gênero
Espetáculo: DEFFUTURISMO
Data: 24 de agosto de 2025
Horário: 17h
Local: Teatro Dragão do Mar
Ingresso: Gratuito
Classificação indicativa: 14 anos

Foto: Divulgação
 

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