Parangaba já teve um teatro de luxo com estação de trem na porta

Escrito em 14/08/2025
Lucas Alexandre


Em 1874, a antiga Villa Nova de Arronches recebeu o Theatro Guarany e entrou para o circuito cultural da província
 

    No século XIX, a Parangaba ainda atendia pelo nome de Villa Nova de Arronches e era um ponto estratégico entre Fortaleza e o sertão. Fundada em 1759, a localidade servia como parada para viajantes e, com a chegada da Estrada de Ferro de Baturité na década de 1870, ganhou nova importância econômica e social.
    Foi nesse contexto que, em 28 de junho de 1874, aconteceu a inauguração do Theatro Guarany, um marco cultural que ligou de vez a região ao circuito artístico da província. A construção foi possível graças ao capitão Manuel Francisco da Silva Albano, morador influente que também se destacou por obras de beneficência, como a reforma da igreja matriz e a doação de terrenos para o hospital local.
   



   A obra ficou a cargo do major José Feijó de Mello, comerciante e político, proprietário de olarias que forneceram tijolos para diversas construções da vila. O Theatro Guarany estreou com grande festa, recebendo a Associação Dramática de Eduardo Álvares da Silva, vinda de Recife, que apresentou o drama Supplicio de uma Mulher, de Alexandre Dumas Filho, seguido da comédia Um Cavalleiro Particular.
    O trem permitia que moradores de Fortaleza chegassem ao teatro e voltassem no mesmo dia, em um trajeto rápido e seguro, um exemplo, ainda no século XIX, de como mobilidade e cultura podiam caminhar juntas. Hoje, esse acesso fácil nem sempre se repete, e a distância entre o público e os equipamentos culturais continua sendo um desafio para a cidade.
    Embora não haja registros precisos sobre quando o teatro encerrou suas atividades, a memória desse espaço segue como um capítulo importante da história local. O prédio, segundo registros, ficava onde hoje está a Avenida Carlos Amora, mas seu uso atual é incerto. Mais do que um ponto de entretenimento, o Teatro Guarany simbolizou o momento em que a Parangaba, ainda Arronches, passou a ser vista não apenas como passagem, mas como destino cultural.
    

Matéria baseada na pesquisa do Professor/Artista Lúcio José de Azevêdo Lucena, apresentada na XXVII Semana Universitária da UECE (2022).

foto: Lúcio Leon/acervo pessoal


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