Fortaleza entra na rota de circulação de espetáculos do eixo Sudeste.

Escrito em 27/07/2025
William Axel


Fortaleza entra na rota de circulação de espetáculos do eixo Sudeste.

Fortaleza é uma capital de forte potência culturalmente e economicamente falando. Nossa terra é movida por uma engrenagem que nós, cearenses, muito nos orgulhamos. No âmbito das artes cênicas, a pesquisa tem um grande destaque. Nós, enquanto artistas, temos um olhar atento à pesquisa em nossos processos, sejam em produções independentes ou em grupos e coletivos com histórias já bem delineadas na cidade.

Nossos espetáculos, muitas vezes, são montados já pensando nos palcos que temos pela cidade. Isso, por um lado, limita bastante o processo criativo. Por outro lado, é uma estratégia de sobrevivência entre cumprir cronograma de editais, se encaixar na programação do equipamento cultural, agenda do grupo e outros etcs mais.

Nos últimos anos, temos percebido um movimento crescente de Fortaleza entrar na rota de circulação de espetáculos oriundos do eixo Sudeste. Produções premiadas, com grande visibilidade nas mídias e nas redes sociais, passaram a integrar as programações dos principais espaços culturais da cidade. Esse fenômeno, por um lado, indica que o público local tem despertado cada vez mais interesse por obras de outras regiões do país e que há um esforço institucional para ampliar o acesso da população a diferentes estéticas e narrativas.

Contudo, esse movimento também nos provoca a refletir sobre o espaço que temos, e que queremos manter, para as produções locais. Fortaleza não é apenas receptora de arte. Somos produtores, inventores de linguagens e laboratórios de criação contínua. Se por um lado é enriquecedor ver trabalhos de outras regiões chegando ao nosso público, por outro é urgente garantir que isso não aconteça em detrimento do que é gerado aqui. A circulação de espetáculos do Sudeste em nossa cidade não pode eclipsar a força criativa que já pulsa por essas bandas há décadas.

É fundamental que o fortalecimento dessa “rota de espetáculos” caminhe junto com políticas públicas que valorizem e impulsionem a criação cearense. Que os palcos que hoje recebem montagens do Sudeste continuem sendo também território de estreia, permanência, valorização e circulação dos nossos trabalhos. Que essa troca não seja unilateral. Que artistas da nossa cidade também possam ocupar teatros em outras capitais com o mesmo reconhecimento e estrutura que estamos oferecendo por aqui.

Fortaleza é potência. E essa potência não pode ser reduzida a um ponto de chegada. Somos também ponto de partida.

 

Imagem: Mel Lisboa em “Rita Lee – Uma Autobiografia Musical” – Foto: Andy Santana/Brazil News

 


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