A Prefeitura de São Paulo notificou o coletivo responsável pelo Teatro de Contêiner Mungunzá, localizado na Rua dos Gusmões, no bairro da Luz, determinando a desocupação do espaço no prazo de 15 dias. A decisão pegou os artistas de surpresa e provocou ampla mobilização no meio cultural.
O teatro, instalado em 2016, é composto por 11 contêineres marítimos adaptados, e desde então se consolidou como um importante polo cultural da capital paulista. Ao longo dos anos, o espaço sediou milhares de ações, entre espetáculos, oficinas, debates, shows e atividades comunitárias, muitas delas de acesso gratuito. A estrutura também conta com horta, parque infantil, quadra esportiva e área de convivência.
Segundo a Prefeitura, o terreno será utilizado para a construção de um hub de moradia social, como parte do projeto de requalificação da região central. A medida, no entanto, foi recebida com indignação pelos integrantes do coletivo, que defendem o valor simbólico, social e artístico do equipamento.
Para Marcos Felipe, um dos integrantes do grupo, a remoção do teatro representa uma tentativa de apagar uma iniciativa de resistência e revitalização cultural em uma área marcada por abandono. Segundo ele, a ação da Prefeitura se insere num processo maior de higienização do centro da cidade.
O grupo afirma ter buscado diálogo com a gestão municipal em diversas ocasiões, mas não obteve retorno efetivo. Reuniões foram marcadas e canceladas repetidamente, e o contato só teria sido restabelecido após a repercussão pública do caso.
Mesmo com a notificação, os representantes do teatro não pretendem sair sem lutar. A assessoria jurídica do grupo prepara argumentos baseados na relevância pública e cultural do espaço. O coletivo também articula propostas alternativas de permanência, incluindo a construção de uma praça no entorno ou um edifício com base livre que permita manter o teatro em funcionamento no térreo.
A iniciativa conta com amplo apoio de artistas, produtores, coletivos e instituições culturais, que veem no Teatro de Contêiner um símbolo de transformação social por meio da arte. Em meio às recentes demolições de espaços culturais no centro de São Paulo, o caso reacende o debate sobre o papel da cultura na reocupação da cidade e os limites da urbanização quando ela se dá à custa da memória e da convivência.